TEMA

TENDÊNCIA OU DESVIO

Para quem e por quem a arquitetura e a cidade são produzidas? Como a
arquitetura pode ser ativismo, arte e filosofia? Como planejar cidades mais
inclusivas? Como a branquitude, enquanto posição de privilégio, influencia a
maneira como ocupamos os espaços? Onde está nossa memória? O que faz a
arquitetura ser vista como um privilégio e não uma necessidade? Do exercício
projetual às políticas urbanas, a formação em arquitetura e urbanismo abrange
uma série de campos que influenciam diretamente na construção de espaços
que habitamos. Vemos cursos e projetos pautados pelas estruturas do capital e
que são excludentes, nos levando a questionar: o que é de fato arquitetura e
urbanismo dentro do cenário de produção atual do mercado e das cidades? O
que está fora? O que se encontra nas brechas? E o que de fato deve ser
arquitetura e urbanismo?
Os números atuais de cursos de Arquitetura e Urbanismo no país
mostram que, na última década, o número mais que triplicou. No Brasil temos
cerca de 200.000 profissionais de arquitetura, sendo que cerca de 70.000 estão
apenas no Estado de São Paulo. Por outro lado, de acordo com uma pesquisa
realizada pelo CAU/BR em 2015, a maioria da população economicamente
ativa já construiu ou reformou algum imóvel residencial ou comercial, dos quais,
85,40% fizeram o serviço por conta própria ou com pedreiros, conhecidos e
parentes, e apenas 14,60% contrataram arquitetos ou engenheiros. Qual o
papel desses tantos profissionais formados anualmente numa sociedade que
não acessa a arquitetura e urbanismo?
O caminho para a democratização da arquitetura e urbanismo, para a
concepção de uma cidade com valores e práticas coletivas, para conquista do
direito à cidade, deve passar obrigatoriamente pelo questionamento dessa
cidade capitalista genérica, buscando no horizonte outros caminhos para o
ensino e produção de arquitetura e urbanismo mais preto, brasileiro e feminista.
Levando-nos a perspectivas e vivências reais e coletivas, através de narrativas
e experiências de outros corpos: negros, pessoas com deficiência, pobres,
indígenas, LGBTQIA+ e mulheres.
O cenário brasileiro frente à pandemia do novo coronavírus (Covid-19), é
colocado como fator que torna propícias as mudanças necessárias e urgentes
para o arquiteto e urbanista no Brasil, buscando verificar como a formação e a
profissão destes tem sido pensada. Tem-se o objetivo de apresentar e discutir a
atuação social, profissional e ética destes que são capazes de promover
mudanças através do encontro entre a dimensão analítica (política, social,
cultural, artística, filosófica) e a dimensão propositiva (espacial, edificável,
histórico-geográfica, funcional).
Resistimos, e a XIV Semana da Arquitetura e Urbanismo da FCT UNESP
entona os novos desafios trazidos pelo contexto da pandemia nos colocando
uma maior necessidade de valorização das relações sociais e coletivas,
tornando mais evidente a urgência de superação das perspectivas funcional,
econômica e produtivista. Assim, o futuro da produção arquitetônica entra no
ponto de partida para grandes transformações sendo seu papel central
essencialmente relacionado com a forma como a sociedade entende e
espacializa suas relações, emergindo uma demanda de se pensar e fazer
espaços que sejam humanos e afetivos e que são diretamente influenciados
pelas experiências que são levadas ao ensino de arquitetura e urbanismo das
universidades brasileiras

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